quarta-feira, 2 de maio de 2012

Mulheres sentem realmente mais dor que os homens?

Uma nova pesquisa da Universidade de Stanford indica que, mesmo quando homens e mulheres têm a mesma doença, as mulheres parecem sofrer mais com a dor.

Sabe-se há bastante tempo que certas moléstias da dor, como a fibromialgia (dor crônica que se manifesta especialmente nos tendões e nas articulações), a enxaqueca e a síndrome do intestino irritável, são mais comuns em mulheres que nos homens. E a dor crônica após o parto é surpreendentemente comum: o Instituto de Medicina da Academia de Ciências dos Estados Unidos (IOM) descobriu recentemente que 18% das mulheres que fazem cesarianas e 10% das que fazem partos normais relatam ainda ter dor um ano depois do parto. Mas uma nova investigação da Universidade de Stanford indica que, mesmo quando homens e mulheres têm a mesma doença -seja ela um problema nas costas, uma artrite ou uma sinusite -, as mulheres parecem sofrer mais com a dor.

Está acontecendo uma epidemia de dor crônica. No ano passado, o IOM estimou que ela aflige 116 milhões de norte-americanos, muito mais do que se acreditava anteriormente. Mas essas últimas descobertas, que os cientistas acreditam ser o maior estudo até hoje a comparar níveis de dor em homens e em mulheres, levantam novas questões sobre se as mulheres estão suportando uma carga desproporcional de dor crônica e apontam a necessidade de uma pesquisa em dor mais atenta a questões de gênero.
O estudo, publicado na revista The Journal of Pain, analisa dados dos registros médicos eletrônicos de 11 mil pacientes cujos índices de dor foram gravados como parte rotineira de seus tratamentos. Para obter tais índices, os médicos pedem aos pacientes que descrevam sua dor numa escala de zero, para nenhuma dor, a dez, "a pior dor imaginável".

Para 21 das 22 doenças com tamanhos de amostras suficientemente grandes para uma comparação significativa, os pesquisadores descobriram que as mulheres relatavam níveis maiores de dor que os dos homens. Em casos de dores nas costas, as mulheres relatavam uma pontuação de 6,03, enquanto os homens ficavam em 5,53. Para dores nas juntas e dores inflamatórias, a média foi de 6 para mulheres e 4,93 para os homens. As mulheres também comunicaram níveis de dor razoavelmente mais altos em casos de diabetes, hipertensão, traumas no tornozelo e mesmo sinusites.

Para diversos diagnósticos, o índice de dor média das mulheres era ao menos um ponto mais alto que o dos homens, o que é, do ponto de vista clínico, considerado uma diferença significativa. De modo geral, os níveis de dor eram vinte por cento mais altos que os dos homens. Infelizmente, esses dados não oferecem pistas sobre por que as mulheres relatam níveis de dor mais altos. Uma possibilidade é que os homens foram socializados para subnotificarem a dor. Mas o autor principal do estudo, Atul Butte, professor associado da faculdade de medicina de Stanford, disse que a explicação provavelmente não passará pelas diferenças de gênero.

"Se é, de fato, possível imaginar um viés tão grande", diz ele, "recortando tantos estudos, com milhares de pacientes, ainda é difícil acreditar que os homens sejam assim. É preciso considerar as causas biológicas da diferença".

Um relatório extensivo de 2007, feito pela Associação Internacional para o Estudo da Dor, citou estudos mostrando que seis hormônios podem ter papel especial nas respostas algésicas. De fato, algumas das diferenças de gênero, particularmente no que se refere à dor de cabeça e dor abdominal, começam a diminuir quando as mulheres chegam à menopausa. Pesquisas apontam também que homens e mulheres respondem de modo diferente à anestesia e a analgésicos, relatando níveis diferentes de eficácia e de efeitos secundários. Isso reforça a ideia de que homens e mulheres vivenciam a dor de maneiras diferentes.

Uma razão para a falta de informação sobre diferenças de sexo é que muitos estudos de dor, tanto em animais quanto em humanos, são feitos apenas em machos. Uma análise descobriu que 79% dos estudos de animais publicados numa revista por mais de uma década incluíam apenas indivíduos do sexo masculino, comparado a 8% que usaram apenas animais fêmeas. Soma-se a isso que experimentos de teste de dor em homens e mulheres mostraram que normalmente há limiares de dor diferentes para vários tipos de dor. Em geral, as mulheres relatam níveis de dor mais altos para dores provenientes de pressão e de estímulos elétricos, e menos dor quando a fonte é de calor.

Melanie Thernstrom, representante de pacientes no comitê de dor do Instituto de Medicina de Vancouver, no estado norte-americano de Washington, diz que a nova pesquisa "realmente ilumina a necessidade de mais e melhores tratamentos, que tenham em vista as especificidades dos gêneros, e a necessidade de mais pesquisas para entender por que os cérebros das mulheres processam a dor de maneira diferente dos homens". Alguns pesquisadores acreditam que a experiência da dor nas mulheres pode ser até mais complicada. As mulheres que deram à luz, por exemplo, podem ter um limiar diferente para "a pior dor de todas", fazendo com que subnotifiquem certos tipos de dor. 

A conclusão, diz Butte, é que se sabe muito pouco sobre como os homens e as mulheres vivenciam a dor e que é necessário mais estudo para que o tratamento de dor possa ser ajustado às necessidades de cada paciente. "Se os médicos tiverem um limiar para quando dão uma dose ou começam uma medicação", diz ele, "pode-se imaginar que o número que estão usando é alto demais ou baixo demais porque uma pessoa pode ter mais dor do que está dizendo". "No final das contas, trata-se daquilo que o cérebro percebe como dor."

Fonte: http://noticias.terra.com.br/educacao/vocesabia/noticias/0,,OI5610009-EI8399,00-Mulheres+sentem+realmente+mais+dor+que+os+homens.html

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