Trabalhar com um neurônio é um tipo de desafio que tem frustrado os
neurologistas: os sinais são tão confusos que parece que não há nenhuma
informação de fato, que é tudo ruído.
A pesquisa da área, portanto, apresenta dificuldades. Há um tempo, os
cientistas descobriram que algumas informações só são codificadas quando
necessárias. O que eles não sabiam era que, examinando a atividade de grupos de
neurônios, era possível determinar o tipo de abordagem que o cérebro usaria
para resolver um problema.
Em uma nova pesquisa, eles estudaram o cérebro de dois macacos tentando
movimentar uma bola para um alvo. Um dos macacos usados, que vamos chamar de H,
é do tipo hiperativo, que não espera, faz. O outro, que vamos chamar de G, é
mais ponderado, e espera o exercício estar completo antes de planejar a ação.
O Experimento
O experimento é bastante simples. Enquanto monitoram o cérebro dos macacos,
os cientistas projetam em uma tela uma bolinha e um alvo. A tarefa dos macacos
é movimentar a bolinha em direção ao alvo. Para realizar este exercício, o
macaco precisa de três informações: a posição da bolinha a ser movimentada, a
posição do alvo, e um vetor de velocidade para deslocar a bolinha em direção ao
alvo. A decodificação da atividade dos neurônios permite saber para onde o
macaco está pensando em mover a mão antes mesmo que qualquer movimento seja
iniciado.
O exame das atividades dos grupos de neurônios permite descobrir como são
codificadas estas informações, só que como a direção do movimento e a posição
do alvo é a mesma, uma mascara a outra, e os cientistas não tem como discernir
uma codificação da outra.
Os cientistas tentaram ainda uma variação do exercício, que incluía um
obstáculo. Neste caso, a direção do movimento não era a mesma da posição do
alvo, e a codificação neuronal das duas podia ser discernida, já que, em 2/3
dos casos, o obstáculo impedia a movimentação direta da bolinha para o alvo. Em
1/3, dos casos o obstáculo não aparecia ou não atrapalhava a direção do
movimento.
Analisando os Dados
Para descobrir a codificação neuronal de cada atividade, os cientistas
juntaram as atividades neuronais dos dois macacos e a partir daí tentaram
descobrir que grupo de neurônios fazia o quê. Mas os dados estavam
inconsistentes, o que estava frustrando os cientistas. Eles então resolveram
analisar os dados de cada macaco individualmente, e ficou claro que cada um
deles estava abordando a mesma tarefa de forma diferente.
Ao ver a bolinha e o alvo, o macaco H já começa a planejar o movimento, o
que é evidenciado no vídeo pela linha verde, mostrando a direção que ele
pretende mover a bola. O macaco G, entretanto, mostra pouca reação, por que
sabe que ainda tem o obstáculo para aparecer. Só quando aparece o obstáculo é
que o macaco G faz o plano para a movimentação.
Mas qual a vantagem de uma ou outra abordagem? O macaco H, ao planejar o
movimento imediatamente, sem esperar o obstáculo aparecer, tinha vantagem nos
casos em que o obstáculo não aparecia ou onde ele não interrompia a linha reta
entre a bolinha e o alvo. Nos outros casos, via-se claramente o vetor diminuir,
e mover-se em direção à estratégia correta, à medida que ele reconhecia que a
estratégia estava errada. Nestes outros casos, o macaco G, mais ponderado,
tinha vantagem e chegava mais rápido a uma estratégia correta, por não precisar
rever sua estratégia.
Fonte: http://hypescience.com/cientistas-conseguem-ler-os-pensamentos-de-macacos/
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