1. Toque Raul!
Seu cérebro é uma metamorfose ambulante. E até coisas banais, como
tocar violão ou sair com os amigos, podem ajudá-lo a funcionar melhor.
“A massa cinzenta é extremamente plástica”, diz Sidarta Ribeiro, um dos
mais influentes neurologistas do país. “E o que mais ajuda é ler muito e
conversar.” Mas não fica nisso: se você quiser aprimorar uma área
específica, como a matemática ou a capacidade de leitura, tem como fazer
isso de um jeito inusitado. Uma pesquisa publicada em 2008 por um
consórcio de 7 grandes universidades americanas mostrou algo que parecia
pouco provável: música e teatro aumentam a capacidade de concentração e
geram ganhos tão significativos para a memória que você tem como
extrapolar a melhora para outras áreas. Eles observaram que quem treina
para tocar um instrumento parece ficar mais habilidoso em geometria e a
compreender melhor um texto. Quem faz teatro, por fim, fica com a
memória mais apurada, pelo hábito de decorar textos e interpretá-los no
palco, e aumenta o nível de atenção – algo fundamental para aprender
qualquer coisa. E a coisa não pára por aí. A escola de medicina de
Harvard conduziu uma experiência ainda mais surpreendente em 2007.
Neurocientistas de lá colocaram voluntários para tocar exercícios
fáceis de piano. Eles treinaram duas horas por dia durante uma semana.
Depois os pesquisadores escanearam o cérebro do pessoal. E viram que a
área da massa cinzenta responsável pelos movimentos dos dedos havia
crescido. Calma, essa ainda não é a parte insólita. Outros estudos já
tinham mostrado que o cérebro é capaz de fazer isso quando você treina
um pouco. A surpresa mesmo veio quando pegaram outro grupo e pediram que
eles só imaginassem que estavam tocando piano. Resultado: o cérebro
deles reagiu da mesma forma. Isso mostrou que o pensamento puro e
simples é capaz de mudar a estrutura da mente. Tem mais. A psicóloga
Carol Dwek, da Universidade de Stanford, mostrou que até “pensamento
positivo” funciona. Ela dividiu centenas de estudantes em dois grupos:
os que achavam que sua inteligência era fixa e os que pensavam que ela
podia mudar. Nos dois anos seguintes, o segundo grupo se deu melhor nos
estudos.
Claro que nada disso pode fazer milagres com o cérebro: até 80% do
seu QI já veio de fábrica com você. Mas que dá para trabalhar o resto,
dá: o negócio é manter a mente ativa do jeito que você bem entender. E
seguir as outras dicas que você vai ver aqui.
2. Coma nozes
“Dieta variada, exercícios físicos e uma boa noite de sono melhoram
nossa capacidade cognitiva”, afirma o neurocirurgião Fernando
Gómez-Pinilla, da Universidade da Califórnia. Ele diz que os ácidos
graxos ômega 3, encontrados em nozes, óleos vegetais, salmão e outros
peixes, são ótimos para o aprendizado e a memória. Nossas sinapses
também gostam de ácido fólico (a vitamina B9, presente em vísceras de
animais, verduras, legumes e grãos) e detestam gorduras trans e
saturadas. Além disso, técnicas de ioga ajudam no raciocínio porque
corrigem a respiração e mantêm o suprimento de oxigênio ao cérebro. Pelo
mesmo motivo, qualquer caminhada já favorece a cognição.
3. Não se afobe
O psiquiatra americano Edward Hallowell ensina: quando topar com um
teste difícil de resolver, conte até 20, tentando baixar a freqüência do
pulso e da respiração. Isso é uma boa forma de mandar ao cérebro um
sinal de que está tudo ok. Também não se afobe ao ler um texto longo: a
compreensão aumenta quando baixamos a velocidade da leitura.
4. Compre um Nintendo
Videogames exigem tanta atividade cerebral que, sim, podem deixar
qualquer um mais inteligente. Essa tese começou a ganhar terreno em
2005, com o livro Everything Bad Is Good for You (“Tudo o Que É Bom É
Ruim para Você”), do jornalista científico Steven Johnson. E hoje, com
cada vez mais pesquisas mostrando que o simples fato de manter a cabeça
ativa aumenta a cognição, ela vem ganhando terreno. Mas espere aí: se
games melhoram o cérebro de forma indireta, por que não fazer um jogo
que tenha como objetivo deixar os usuários mais espertos? Foi justamente
o que a Nintendo fez em 2006. Era o Brain Age, um game projetado para
melhorar a capacidade de raciocínio. Ele foi concebido a partir de
idéias do neurocientista Ryuta Kawashima. O japonês observou que, quando
alguém está trabalhando em algo muito complicado, como equações de
física quântica, usa só algumas áreas do cérebro. Mas, se a tarefa for
fazer uma seqüência de cálculos fáceis (tipo 3 + 2, 4 - 1, 9 + 3...), só
que num ritmo frenético, um atrás do outro, acontece um fenômeno: seu
cérebro vira um céu de Copacabana no Ano-Novo. Neurônios começam a
pipocar suas descargas elétricas em todos os cantos da massa cinzenta.
Esse é o objetivo do Brain Age: jogar problemas fáceis em seqüências
estroboscópicas. E isso, pela teoria de Kawashima, funcionaria como uma
academia para o cérebro.
Além de sequências de contas, o Brain Age tem
outros jogos parecidos, como mostrar uma série de números espalhados na
tela por um piscar de olhos, depois esconder tudo e pedir que você
clique onde eles estavam, em ordem crescente. Outro puxa sua capacidade
de concentração ao limite mostrando o nome de cores na tela, mas nas
“cores erradas”, tipo a palavra “azul” escrita em amarelo. E desafia
você a dizer qual é a pigmentação das letras. Parece fácil, mas é o
suficiente para derreter os neurônios. Com essas coisas, o Brain Age
vendeu 15 milhões de cópias. O êxito fez surgir uma série de clones do
jogo. E também chamou a atenção para sistemas que já existiam, como o
Supermemo, que promete deixar os usuários com uma memória de elefante
(confira em www.supermemo.com). Mas e aí? Tudo isso funciona mesmo? A
ciência não sabe dizer ainda. Seja como for, os fãs desse tipo de jogo
têm uma boa notícia. Neste ano, pesquisadores americanos e suíços
colocaram 35 voluntários para fazer uma batelada desses exercícios. E
eles melhoraram seu desempenho em testes de raciocínio aplicados depois
dos treinos. Mesmo assim, a chefe da equipe, Susanne Jaeggi , mantém a
cautela: “Isso ainda não é uma evidência científica”. Bom, mesmo que
nunca haja uma, vale pela brincadeira.
5. E as drogas?
Alguns remédios podem bombar o raciocínio, em geral alterando o
equilíbrio de neurotransmissores envolvidos nesse processo. Mas cuidado.
As estrelas entre as “drogas da inteligência” são o metilfenidato
(Ritalin) e o modafinil (Provigil). O primeiro é indicado para o
transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, enquanto o modafinil
serve para combater a sonolência. Mas um recente relatório da Academia
de Ciências Médicas de Londres afirma que eles ajudam a melhorar a
atenção e a memória de pessoas saudáveis. O relatório também alerta para
os perigos de comprar esses compostos sem orientação médica. O aderal,
por exemplo, pode melhorar a concentração, mas também causar ataque
cardíaco; o aniracetam ajuda na memória, mas gera ansiedade e insônia;
as metanfetaminas contribuem para a concentração, e também para derrames
cerebrais. Já a vasopressina, um hormônio para o tratamento do
diabetes, ajuda na memória e no aprendizado. Por outro lado, seu consumo
desordenado gera náuseas, anginas e coma.
E tem a velha nicotina. Estudos mostram que ela parece aumentar a
interação entre os neurônios, o que favorece a atenção. Mas o preço a
pagar por ela você sabe qual é. Segundo Gabriel Horn, da Universidade de
Cambridge, mais de 500 substâncias como essas estão sendo pesquisadas –
em geral para o tratamento de Alzheimer, Parkinson e outras doenças
degenerativas. A maioria provavelmente terá seu uso restringido por
agências reguladoras, mas algumas devem chegar às farmácias em breve.
6. Faça cara de inteligente
Não basta ser, tem que parecer. Dividir uma conta de bar de cabeça,
saber com que países a Lituânia, o Chade ou o Butão fazem fronteira e
responder testes de inteligência mais rápido que os outros é privilégio
de poucos. Mas, com estes truques aqui, qualquer ignóbil pode posar de
Prêmio Nobel! Pode testar: eles ajudam sua cabeça a fazer coisas que nem
ela acredita.
Fonte: http://super.abril.com.br/saude/como-turbinar-seu-cerebro-447714.shtml